Para a entrevista de hoje, trazemos uma jovem mulher que é um amor de pessoa, sempre com um sorriso no rosto e ligada as ciências e as tecnologias. Ela tem uma trajectória incrível e é muito focada nos seus objectivos. Vamos começar?
Vamos pedir a nossa entrevistada para fazer a sua apresentação.
Quem é esta jovem mulher?
Chamo-me Ana Albino Julante Constantino. Sou uma jovem mulher casada, simples, alegre, motivada e apaixonada por ciências e tecnologia. A distinção que recebi ao longo do percurso acadêmico e profissional nos lugares por onde passei é fruto da minha fé e da coragem e dedicação com que esta me faz abraçar todos os meus projectos.
Excelência acadêmica conferiu-me bolsas de estudo que me permitiram fazer Bacharelato Internacional (IB) na Swazilândia, posteriormente concluir licenciaturas em Ciências de Computação e Matemática em Wartburg College nos Estados Unidos da América e actualmente o meu mestrado em Cyber Segurança por City, University of London no Reino Unido.

Ao longo dos anos, acumulei vasta experiência profissional dentro e fora de Angola nas áreas de pesquisa, modelação e análise de dados, desenvolvimento de software, educação secundária e superior e segurança cibernética.
Paralelo às minhas aspirações profissionais, sempre tive um desejo ardente de servir a minha comunidade reflectido em forma de serviço comunitário, voluntariado e empreendedorismo social.
Hoje, especialista em Segurança Cibernética, encontrei na criação da marca Kondama uma oportunidade para usar a minha “expertise” para servir a todos Angolanos e não só com serviços de segurança cibernética que melhorarão a qualidade da segurança cibernética nas organizações que fazem parte, nas suas famílias e para si mesmo.
É uma mulher de acção, que vai e faz. Qual é a sua opinião sobre mulheres na ciência?
Acho que seja louvável que haja cada vez mais abertura para mulheres na ciência. Se voltarmos no tempo dois ou três séculos, as poucas mulheres que existiam na ciência nem sequer conseguiram o direito autoral do seu trabalho. Muitas mulheres publicaram grandes obras usando pseudo-nomes masculinos por causa da opressão que as impedia de se engajarem em actividades científicas.
É uma pena que a autoria de algumas dessas obras poderá estar perdida para sempre e nunca poderemos honrá-las do mesmo jeito que honramos Isaac Newton e Albert Einstein por exemplo. Acho que ainda temos muito trabalho a fazer. Mais do que oportunidade para entrar e explorar, nós mulheres em ciência precisamos de oportunidades para desenvolvermos o nosso potencial completo e atingirmos altos patamares na carreira em ciência.
Há limites para as mulheres como tu?
Limites, visíveis ou invisíveis sempre vão existir. A questão é o que fazemos com eles. Acredito que mulheres como eu não se deixam intimidar e vivem quebrando as barreiras e rompendo os limites que as impedem de crescer.
Como definiria a mulher que é hoje?
Hoje acho que sou uma mulher mais confiante, mais madura e mais sábia.
A Ana é muito jovem, é esposa, é estudante no exterior, como tem conseguido gerir tantas ocupações?
Obviamente não é fácil gerir tantas ocupações. Mas não tenho muita dificuldade em construir estratégias para gerir o meu trabalho, os meus estudos e a minha família. Sou uma pessoa muito disciplinada e tenho bons hábitos de gestão de tempo. Além disso, agradeço a Deus pelo esposo companheiro e amigo que tenho. Faz-me crer que tudo isso é um verdadeiro trabalho de equipa e tudo se torna mais fácil de levar.
Há espaço e tempo para viver a sua vida, fazer algo para si mesma?
Se olhar para a minha agenda, parece que não porque ela está quase sempre preenchida. Mas na verdade eu incluo intencionalmente na minha agenda tempo para mim e para os meus e trato deste com a mesma disciplina e seriedade com que trato todos outros compromissos que tenho.
- Já agora, o que faz para se divertir?
Eu gosto de viajar, fazer retiros em lugares mais calmos, estar em contacto com a natureza e degustar da boa gastronomia. Sou grande amante de leitura e cinema e gosto de passar tempo e soltar boas gargalhadas ao lado das pessoas que amo.

O que é a Kondama. Qual é o objectivo da sua criação e o que a motivou a criá-la?
Kondama é uma empresa Angolana no ramo de Segurança Cibernética. Foi criada para promover a segurança cibernética para Angolanos e não só. Tem como objectivo oferecer serviços de segurança cibernética de qualidade para empresas e elevar o nível de literacia em segurança digital da população. Kondama nasceu do desejo de influenciar de forma positiva a qualidade da segurança cibernética em Angola que, actualmente tem um índice de segurança cibernética muito abaixo da média.
A Kondama é uma empresa com um foco bem tecnológico. É visível a existência de uma brecha digital enorme em Angola, isso é uma preocupação para si?
Com certeza. A minha maior preocupação é que o nível de segurança cibernética no país não esteja a crescer à mesma velocidade que a exposição digital da população. Pior ainda, a maior parte das pessoas expostas não faz ideias dos riscos nem de como se proteger a si, sua família, e seu trabalho. A situação é crítica e precisa de intervenção imediata.
Tenho que fazer essa pergunta. É difícil ser mulher da ciência em Angola?
Na minha opinião, ser mulher, jovem e em ciência em Angola ainda é muito difícil. O nível de preconceito contra mulheres na ciência é tão alto que, muitas vezes, independentemente de qualificações acadêmicas e profissionais irrefutavelmente altas, ainda há a presunção de incompetência. O pior é que as vezes nem oportunidade para provar o contrário temos.
Sei que já enfrentou vários desafios profissionais e já teve grandes realizações também. Fale-nos um pouco sobre estes desafios.
Um desafio profissional que vale a pena salientar foi a minha reinserção no mercado de trabalho Angolano em meio a crise financeira. Havia uma discrepância enorme entre as minhas expectativas e o que havia disponível para mim no momento. Foi necessário manter a mente aberta e abraçar com carinho as oportunidades e desafios que a mim se apresentaram na altura sem necessariamente desistir dos meus sonhos nem parar de lutar.
Fez a maior parte da sua formação no exterior, num país em que a ciência está super desenvolvida e a realidade entre nós é completamente diferente. Sente que a Kondama vem trazer um pouco de si e de tudo o que aprendeu?
Com certeza. Kondama vem dar um toque especial à prática de segurança cibernética em Angola, com o rigor e a qualidade que até então só estávamos acostumados a receber de empresas estrangeiras, mas ajustado à realidade e às necessidades dos Angolanos.
Ser mulher, jovem, linda e inteligente. Que dificuldades tem que enfrentar e superar para se fazer respeitar neste território “supostamente” masculino, que são as ciências?
O preconceito é uma das maiores dificuldades que tenho de enfrentar no território das ciências. Mas acredito que não é a força nem a violência que me faz ganhar o respeito dos meus homólogos nesse território. Tudo que preciso é de oportunidade para deixar que o meu trabalho fale por si mesmo.
Há cada vez mais meninas e mulheres na ciência, o que levou a ONU a decretar um dia inteiramente dedicado a elas. Qual é a sua opinião a respeito?
Acho louvável que se tenha dedicado a data para a celebração. No entanto, acho que a ciência está cheia de mulheres brilhantes anónimas e acredito que, mais que motivar meninas e mulheres a aderirem, deve-se dar o devido crédito às mulheres que muito fizeram e continuam a fazer em prol da ciência. Não me agrada a ideia de se falar sobre mulheres em ciência como uma mera formalidade, um discurso politicamente correcto de igualdade no gênero.
Acho que as mulheres em ciência têm o direito de conhecer as suas heroínas e compreender a profundidade das suas reais capacidades. Não basta dizer que existem mulheres na ciência. É necessário salientar que existem genialidades femininas na ciência e torná-las tão bem conhecidas como os seus homólogos do sexo masculino.
Em Angola, já se faz sentir esta realidade, já há muitas mulheres na ciência a ponto de ser relevante a comemoração desta data?
Acredito que sim. Mas tenho as minhas dúvidas sobre a qualidade dessas comemorações em Angola. Devia ser uma oportunidade para celebrarmos e exaltarmos o trabalho de mulheres Angolanas na ciência e preparar o caminho para que uma nova geração de meninas possa também trilhá-lo. Infelizmente não tenho visto muito disso.
Na sua opinião, quais são as maiores dificuldades que as mulheres enfrentam actualmente?
Parece estranho mas eu acredito que actualmente as mulheres têm encontrado dificuldades em realmente serem livres. Um grupo de mulheres luta contra o peso da violência cultural e estrutural que preconcebeu o papel da mulher de tal forma que as impede de seguir suas aspirações pessoais e profissionais.
Outro grupo de mulheres vive uma pseudoliberdade em uma jaula por elas próprias criada com pré-concepções tão fortes sobre o que é ou não ser mulher livre que mais aprisiona do que liberta. Eu acho que a verdadeira liberdade não está nem em um extremo nem em outro. É necessário encontrar o equilíbrio e ser capaz de fazer escolhas que verdadeiramente as libertem e as façam felizes.
As mulheres actualmente têm se debatido com vários problemas de identidade e afirmação social fruto de traços culturais onde se verifica “excesso de proteção ao bem feminino” que resultava na privação do direito a escola, a profissão e a liberdade de escolha. Hoje, as mulheres tomam decisões por si mesmas e decidiram ir à escola e ter uma vida profissional fora de casa. O que pensa a respeito?
Devemos continuar a combater toda forma de violência estrutural e cultural contra mulheres que as impede de ter uma vida plena. É bom que as mulheres tenham oportunidade de estudar e ter uma vida profissional fora de casa, mas também é necessário perceber que nem todas mulheres farão as mesmas escolhas.
Acho que independentemente de escolherem constituir família ou não, serem mães ou não e trabalhar fora de casa ou não, as mulheres precisam de ser respeitadas e apoiadas para exalarem o melhor de si.
- Qual é a sua opinião sobre o empoderamento de mulheres e meninas?
Acho que empoderamento de mulheres e meninas é feito com bons exemplos e portas abertas. Acho que mulheres empoderadas precisam de ganhar maior visibilidade para inspirarem outras mulheres e meninas e que as condições precisam de estar criadas para apoiar mulheres e meninas que tenham a vontade e a força, mas não os meios para ir mais longe.
Qual tem sido o maior desafio que as mulheres ainda enfrentam na sua vida diária?
Acho que a depender da realidade que vivam, mulheres enfrentam desafios diferentes na vida diária. Em Angola em particular, um dos grandes desafios para as mulheres na vida diária é encontrar o equilíbrio entre as exigências profissionais e familiares. Acho que a mulher Angolana trabalha muito dentro e fora de casa e isso acaba sendo particularmente desgastante.
- Existem limitações para as mulheres? Ou como diz o adágio “lugar de mulher é onde ela quiser”?
Como disse anteriormente, limitações vão sempre existir. Infelizmente ainda não chegamos a um ponto em que o adágio se cumpra instantaneamente. Como mulher, é necessário ter a força e coragem para quebrar certos limites e se chegar ao lugar onde se quer estar.
- O que mais a motiva, o que faz a Ana inspirar e recomeçar?
O que me motiva é o desejo de tornar o mundo, em particular o meu país melhor do que eu encontrei e a vontade de acender no coração das gerações vindouras a chama da esperança de um futuro melhor.
- Depois de tudo que tem aprendido e tem feito. Sente-se uma mulher realizada ou ainda tem metas para alcançar?
Sinto-me realizada no sentido de ter alcançado as metas até aqui traçadas. Mas, para mim, enquanto houver vida há sempre novos sonhos para se sonhar e novas metas para se alcançar.
- Que mensagem deixaria para as mulheres que como a Ana, correm atrás dos seus objectivos
Tudo que fazemos coopera contra ou a favor dos nossos planos, até as coisas que supostamente menos relacionadas. Não tenha pressa de alcançar os seus objectivos. Não escolha linhas curtas nem passe por cima de nada nem ninguém. Não tenha medo de passar pelo processo, ainda que seja longo, cansativo ou doloroso, ele é necessário para produzir a melhor versão de si.
- Quer acrescentar alguma coisa que não perguntamos?
Sim. É praticamente impossível falar da minha jornada sem falar de Deus. Tudo que tenho e sou hoje é pela graça superabundante de Deus manifesta na minha vida. Mesmo sem merecer Deus sempre me capacitou e fez com que todas as coisas cooperassem ao meu favor. Gostaria de aproveitar esse momento para manifestar gratidão por tudo que Deus já fez e continua fazendo em minha vida.
- A Ana considera-se uma pessoa feliz?
Sim, sou uma pessoa muito feliz e estou muito grata a Deus por isso!